A Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB/PA) se manifestou sobre a série de 24 homicídios ocorridos em 16 bairros de Belém entre a tarde de sexta-feira (20) e a manhã de sábado (21) e cobra agilidade do Governo do Estado nas investigações. Além do esclarecimento dos fatos, a Ordem pede “uma postura do Estado em dirimir conflitos e as violações ocorridas nesta tragédia”.
- No PA, parentes de vítimas de onda de assassinatos identificam corpos
- Governo do Pará pede apoio do ministro da Justiça para apurar crimes
- Após assassinatos, moradores de Belém vivem sob clima de medo
- Grande Belém registra 24 mortes com características de execução em 24h
- Pelo menos oito homicídios foram registrados nesta sexta na RMB
- PM morre após ser baleado durante perseguição a bandidos em Belém
A onda de assassinatos começou após a morte de um policial militar na manhã de sexta-feira em um tiroteio no bairro da Cabanagem, em Belém. Rafael da Silva Costa tinha 29 anos, era soldado da Ronda Tática Metropolitana (Rotam) e atuava na perseguição a suspeitos de assalto. Durante troca de tiros com os suspeitos, Rafael foi atingido na cabeça e chegou a ser levado para o Hospital Metropolitano, em Ananindeua, mas não resistiu aos ferimentos.
Após a morte de Rafael, houve o registro de 24 homicídios na capital paraense em 24 horas. Segundo Orlando Salgado, diretor geral do Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves, peritos encontraram características de execução em alguns dos assassinatos. Além dessas, outras três mortes foram registradas, sendo dois atropelamentos e um espancamento. O Governo do Estado admitiu a possibilidade de uma relação entre a morte do soldado e os crimes de execução.
Em nota, a OAB/PA lamentou a morte do soldado PM Rafael da Silva Costa, bem como a série de crimes, analisando o caso como “onda de extrema violência”.
“Infelizmente, nosso Estado vem amargando o quarto lugar no ranking de mortes por intervenção policial, segundo dados do Conselho Nacional do Ministério Público em 2016, no total de 237 mortes. Além disso, o Estado do Pará registrou 4.196 mortes violentas, representando um aumento de 11,2% em relação a 2015. Como sociedade civil que luta pelo direitos dos cidadãos, a OAB/PA, por meio da Comissão de Direitos Humanos, coloca-se à disposição para quaisquer solicitações de auxílio”, diz a nota da OAB enviada à imprensa no último sábado (21).
Vítimas
Uma das vítimas era um feirante que foi executado na rua da Olaria, no bairro do Guamá. Segundo testemunhas, ele foi atingido por vários tiros que foram disparados do interior de um carro em movimento.
Duas horas antes, Flávio Oliveira Maciel, de 23 anos, foi executado na rua dos Profetas. Ele estava na porta da casa dos pais, conversando com amigos quando foi atingido pelos disparos. A família conta que ele trabalhava dirigindo o táxi do pai. As outras vítimas ainda não foram identificadas.
Uma mulher que esteve no IML conta que o cunhado foi assassinado na noite da última sexta-feira (20), na porta de casa, no bairro de Águas Lindas, em Ananindeua. Com medo, ela pediu para não ser identificada.
"Um carro prata parou, aí falou pra ele não correr e atiraram nele, dois na cabeça e quatro nas costas...Muito rápido", detalha.
Outra mulher, tia de uma das vítimas, escutou o barulho dos tiros que atingiram o sobrinho, no bairro do Bengui. Ela conta que o ajudante de pedreiro havia saído do trabalho e voltava para casa.
"Tinha um carro preto parado e ele continuou andando, quando ele chegou próximo ao carro, eles atiraram nele", afirma a mulher, que também não quis ter a identidade revelada.
Uma mãe conta perdeu o filho de 21 anos durante a madrugada. Ele estava em um bar, no bairro do Telégrafo, quando homens encapuzados chegaram atirando e atingiram cinco pessoas.
"Meu filho levou um tiro, que eu acho que pegou no peito dele, ficou agonizando e se escondeu atrás do carro. Quando eles subiram no carro para ir embora e viram que ele estava agonizando, gemendo, o outro falou 'desce que ele tá vivo', desceu e deu mais oito tiros nele. Eles deviam procurar saber se é traficante, usuário de droga, e se fosse, levar pra polícia, porque eu acho que ainda existe justiça, só que eles chegam atirando e nisso muitos inocentes morrem, como aconteceu com meu filho", lamentou a senhora.
Investigações
A Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) informou neste domingo (22) que ainda não vai divulgar a identificação dos mortos para não prejudicar as investigações. Todas as informações registradas nas delegacias dos bairros onde aconteceram os assassinatos vão se concentrar na Divisão de Homicídios, responsável pela investigação das mortes, bem como da possível relação entre os crimes.
O secretário de segurança, Jeannot Jansen, informou no sábado (21) que o governador do Estado, Simão Jatene, fez contato com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Segundo Jansen, governador e ministro conversaram sobre a possibilidade de cooperação da União nas investigações. O resultado da conversa foi de que a melhor colaboração seria a constituição de um grupo guiado pela inteligência para as investigações dos crimes.
O Governo do Estado disse que instalou ainda na tarde de sexta um gabinete permanente de situação, envolvendo todos os órgãos da área para acompanhar e monitorar os acontecimentos. “As polícias agem ostensivamente nas ruas. O empenho é máximo para que mais crimes não ocorram. As ações, inclusive a desse caso, são norteadas pela inteligência, que tem duas testemunhas e uma filmagem para elucidar o caso”, explicou o delegado geral da Polícia Civil, Rilmar Firmino.