Política Bolsonaro

Bolsonaro diz que não abre mão da flexibilização da posse de arma e chegará a 'meio-termo' com Moro

Presidente eleito disse ainda que não demarcará terras indígenas, caso que também passa pelo Ministério da Justiça
Entrevista de Jair Bolsonaro a Datena na TV Band Foto: Reprodução
Entrevista de Jair Bolsonaro a Datena na TV Band Foto: Reprodução

RIO — O presidente eleito Jair Bolsanaro disse na tarde desta segunda-feira que Sergio Moro , indicado como futuro ministro da Justiça, terá carta branca no governo, mas que quando houver discordâncias em bandeiras históricas do bolsonarismo, como a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, o fim das demarcações de terras indígenas e a redução da maioridade penal eles terão que chegar a um "meio-termo".

Bolsonaro afirmou que, caso Moro não seja favorável à flexibilização da posse de arma de fogo, terá que conversar com ele para estabelecerem um consenso.

— Na conversa que tive rapidamente com Sérgio Moro, de 40 minutos, dei carta branca para ele tratar de assuntos de corrupção e crime organizado, 100%. Não vai ter indicação na Polícia Federal. É carta branca, 100%. Naquilo que nós somos antagônicos, vamos buscar o meio-termo. Sou favorável à posse de arma; se a ideia dele for o contrário, tem que chegar a um meio-termo —, afirmou.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA E ECONOMIA

O presidente eleito disse que seu governo fará "alguma reforma da Previdência" logo no começo de seu governo, no ano que vem.

— Eu acho que, com o que está aí, é possível fazer acertos de forma gradual e atingir o mesmo objetivo sem colocar em risco os trabalhadores e sem levar pânico à sociedade. Nós vamos fazer alguma reforma. Se não conseguir aprovar alguma coisa esse ano, vamos propor alguma reforma ano que vem. Logo no começo (do ano que vem) — disse.

Bolsonaro voltou a dizer que não recriará a CPMF:

— Nós queremos desburocratizar, desregulamentar, fazer comércio com o mundo todo sem o viés ideológico. Nós queremos até diminuir a carga tributária, que alguns falam que é loucura. Até porque, hoje em dia, se você diminui imposto — e é também o pensamento do Paulo Guedes — lógico, diminuir com responsabilidade, você cria emprego no Brasil. Criando emprego, aumenta a base de contribuição — concluiu.

COMÉRCIO COM A CHINA

Após uma reunião com o exbaixador chinês Li Jinzhang nesta segunda-feira, o presidente eleito disse, em entrevista à "Band", que o comércio com a China poderá até ser ampliado. Bolsonaro voltou a dizer que a relação comercial do Brasil com outros países não se dará por meio de ideologia.

— Todos os países podem comprar no Brasil, mas não comprar o Brasil. Está na cara que a China quer aumentar negócios com Brasil. Não teremos nenhum problema com a China, pelo contrário, pode ser até ampliado (o comércio) — afirmou.

CASO CESARE BATTISTI

O presidente eleito disse que também se reuniu com representantes da diplomacia italiana e com o embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernadrdini, e afirmou que Cesare Battisti "voltará para a Itália, sim, imediatamente". Logo em seguida, no entanto, Bolsonaro diz que a medida vai depender de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

— Ele (ex-presidente Lula) decidiu, no apagar das luzes, dar status de refugiado a um terrorista italiano chamado Cesare Battisti. O que disse é que tudo o que for legal da minha parte nós faremos para devolver este terrorista para a Itália — afirmou Bolsonaro.

Questionado se Battisti deve ser extraditado, respondeu:

— Voltará para a Itália, sim, imediatamente. Volta para lá. Vai depender do Supremo Tribunal Federal esta decisão.

CRÍTICAS A FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente eleito Jair Bolsonaro trocaram uma séria de provocações nas redes sociais após uma declaração no tucano de que o governo Bolsonaro deve prejudicar a imagem do Brasil no exterior.

Após a declaração de FH, Bolsonaro reagiu e publicou uma imagem do ex-presidente em que ele aparece segurando o livro “Prisoner of the State: The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang” (O Prisioneiro do Estado: O Jornal Secreto do Primeiro Ministro Zhao Ziyang), escrito pelo ex-líder do Partido Comunista da China Zhao Ziyang.

O tucano respondeu à pulblicação de Bolsonaro:

"A desinformação é péssima conselheira, sobretudo vinda dos poderosos: na foto do Twitter do Pr eleito eu apareço lendo um livro de exPremier da China, deposto e preso, em que critica o regime. Isso aparece como”prova” de que sou comunista. Só faltava essa. Cruz, credo!", escreveu no Twitter.

Na entrevista desta segunda-feira, Bolsonaro disse que FHC é de esquerda, assim como o PT:

— Essa máscara caiu com a minha chegada como candidato e agora eleito, mostrando que eles pertenciam ao mesmo time. Até mesmo durante a campanha, em dois momentos, FH disse que, caso o PSDB não fosse para o segundo turno, ele apoiaria o PT contra a minha pessoa. E ele só não externou depois, no segundo turno, porque o partido fechou questão. O partido perdeu muito. Alguns dizem que o PSDB acabou. Eu acho que não acabou ainda. Se tivesse apoiado o PT, com certeza tinha acabado — disse.

SUPERLOTAÇÃO EM PRESÍDIOS

Bolsonaro disse ainda que, caso não tenha recurso para a construção de presídios, deve-se "amontoar" os presos:

— Na questão das cadeias, eu tenho dito que se você tem recurso você amplia. Ninguém quer torturar ninguém dentro da cadeia. Agora, se não tiver recursos, amontoa. É melhor o cara lá dentro entre os seus colegas do que aqui fora. Você não pode deixar o cara aqui fora estuprando, roubando, sequestrando — disse.

Ao ser questionado se não haveria outra alternativa, o presidente eleito respondeu:

— Se não tiver recurso, lamento, você vai ter que amontoar esse cara lá. Aí e a resposta do Supremo, algo que já foi decidido, um ano e pouco, dois anos atrás, que um presidiário e seu advogado entraram na Justiça porque ele estava dormindo de forma desacomodada no presídio. Ele ganhou uma indenização de R$ 2 mil. Isso daí vale para todo mundo. Você tem que buscar uma solução pra isso. Devemos acreditar na Justiça, confiar nos outros poderes, tudo bem, mas temos uma realidade. Quem está sendo importunado e sofrendo aqui é a população de bem — afirmou.

DRONES E SNIPPERS

O presidente eleito também foi questionado sobre a proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) de fazer incursões em comunidade com drones com armas acopladas e de usar snippers em operações nas favelas cariocas.

— Olha, o que vocês da mídia dizem? Que vivemos em guerra. O Haiti também estava em guerra. Eu acredito que se você fizer isso com drones aqui, você tem que ter o apoio da legislação, ao tocante a isso. Eu sou favor. Você não tem outro caminho.

Sobre o uso de snippers, Bolsonaro respondeu:

— Se você está em um confronto, em vez de dar, por exemplo, milhares de tiros para uma região que você pode atirar, é melhor o snipper. O treinamento existe, não é para qualquer um. É como se fosse um atirador que fosse competir em uma Olimpíada. Você tem que ter isso daí, porque o outro cara que está do outro lado, afrontando, com um fuzil na mão, está atirando à vontade para o lado de cá. Você tem que botar um ponto final nisso daí. Como você bota um ponto final? Dando exemplo, mostrando que quem está do lado da lei pode atirar e quem não está nao pode. Você vai ter uma ou duas operações e acaba. Quer coisa mais vexatória do que a primeira UPP aqui. Você assistir, se não me engano no Morro do Alemão, centenas de pessoas fugindo com fuzil nas costas e ninguém fez nada. Não teve nenhuma barreira de contenção. Ia haver mortes ali. Agora, para evitar a morte daquelas pessoas, nós deixamos que a criminalidade se espalhasse para todo o estado do Rio de Janeiro — disse.

SEGURANÇA NAS FRONTEIRAS

Ao ser questionado sobre quais medidas tomaria para impedir o tráfico de drogas e armas nas fronteiras brasileiras, Bolsonaro respondeu:

— Quando você entra em confronto com gente armada, de fuzil ou não, com toda certeza vai haver mortes. E não podemos, após haver mortes, simplesmente, colocar o jovem soldado com 21 anos ou o coronel com 45 de idade no banco dos réus. Você não pode fazer isso. Tem que dar carta branca para ele se defender em confronto, dar garantia de que ele não vai ser processado. Se nós conseguirmos no parlamento, nós conseguiremos, sim, inibir a entrada de armas, munições e drogas pela fronteira — disse.

NOVOS MINISTROS

O presidente eleito informou que mais quatro ministérios estão perto de terem seus titulares anunciados:

— Estamos namorando quatro ministros, por enquanto. A gente só divulga depois de toda a equipe tomar conhecimento. Estamos no forno com Relações Exteriores, Meio Ambiente, Agricultura e Infraestrutura. Está bastante avançado isso aí. Mas não podemos revelar os nomes.

Cinco escolhidos pelo presidente eleito já estão confirmados na Esplanada dos Ministérios. O general Augusto Heleno vai comandar a pasta da Defesa; o juiz Sergio Moro, Justiça e Segurança Pública; Onyx Lorenzoni será o chefe da Casa Civil; o astronauta Marcos Pontes, com Ciência e Tecnologia. O economista Paulo Guedes será o superministro da Economia, pasta que reunirá Fazenda, Indústria, Comércio Exterior e Serviços e Planejamento. O ministério de Sergio Moro também terá seu escopo aumentado, com “frações”, segundo Bolsonaro, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a estrutura do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU).

ENCONTRO MARCADO COM TEMER

Durante a entrevista, Bolsonaro falou sobre o encontro marcado com o presidente Michel Temer, quarta-feira em Brasília. Segundo ele, a reunião não terá discussões mais aprofundadas sobre a situação do governo federal.

— Vai ser um encontro protocolar, uma visita. Pouca coisa vai ser discutida com ele. O mais importante é que ele está colaborando com a equipe de transição com números, afinal de contas, o Brasil continua — disse Bolsonaro. — Alguma coisa que porventura a gente possa fazer agora nós pediremos ao presidente Michel Temer. Seja evitando pautas-bomba, vetando algum ou outro dispositivo, fazendo com o que o Brasil continue andando.