Rio

Antes de mortes no Salgueiro, Cúpula da Segurança colocou militares na mata

Estratégia teria sido a mesma usada três dias após megaoperação
Estrada das Palmeiras, onde os sete corpos foram encontrados, no dia 11 de novembro Foto: Fábio Guimarães/17.06.2016 / Agência O Globo
Estrada das Palmeiras, onde os sete corpos foram encontrados, no dia 11 de novembro Foto: Fábio Guimarães/17.06.2016 / Agência O Globo

RIO - Numa reunião no último dia 6 de novembro, a cúpula das forças de segurança estadual e federal definiu um plano para encurralar traficantes do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. A estratégia era entrar na favela pela Rodovia BR-101 com caveirões para forçar os bandidos a tomarem a rota de fuga identificada em investigações da Polícia Civil: a Estrada das Palmeiras. Ali, homens do Exército que chegariam em helicópteros e se infiltrariam numa mata, na noite anterior, seriam responsáveis por surpreender os fugitivos.

LEIA TAMBÉM : Perguntas ainda não respondidas sobre mortes no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo

LEIA MAIS: Após sete mortes em São Gonçalo em dia de operação, militares e Polícia Civil negam disparos

O plano foi posto em prática numa operação conjunta no dia seguinte, mas fracassou: avisados, os traficantes deixaram a favela antes de as forças de segurança chegarem. Três dias depois, na madrugada do dia 11, uma nova operação da Polícia Civil e do Exército no local terminou em sete mortes — após um mês, mais uma vítima não resistiu aos ferimentos. Agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e militares afirmam que não atiraram na ocasião, somente entraram na favela e encontraram corpos baleados. Todos os agentes ouvidos afirmaram que foram à favela em três caveirões. Nenhum depoimento menciona homens na mata.

A existência da reunião e do plano foram confirmadas pelo EXTRA por duas fontes que investigam a ação. Participaram do encontro, às 10h30m do dia 6, no Centro Integrado de Comando e Controle, na Cidade Nova, representantes da Secretaria de Segurança, do Exército, da Marinha, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Civil.

O relato de duas testemunhas já ouvidas pela polícia e pelo MP, no entanto, vai de encontro ao plano discutido na reunião. Um jovem de 19 anos, que foi baleado nas mãos e na coxa durante a operação e sobreviveu afirmou que homens vestidos de preto, com capacetes e fuzis com mira a laser atiraram, da mata, em direção às vítimas. Já Luiz Octávio Rosa dos Santos, de 27 anos, a oitava vítima fatal da ação, que morreu no último dia 11, depois de um mês internado, também contou em depoimento que os tiros que atingiram as vítimas “vinham da mata em direção das casas que ficam do outro lado da Estrada das Palmeiras”.

Exército nega utilização de helicópteros

Promotores do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do Ministério Público investigam o uso de helicópteros para deixar homens na mata perto do Complexo do Salgueiro, por volta das 22h do dia 10, horas antes da operação. A informação foi passada por moradores, que viram homens descendo de rapel das aeronaves. O Comando Militar do Leste (CML) negou o uso de helicópteros naquela noite.

Em nota, o CML confirmou a existência da reunião e o uso de helicópteros para infiltrar homens na mata no dia 7, quando a operação conjunta não teve resultados significativos. “No caso da operação realizada no Complexo do Salgueiro, no dia 7 de novembro, houve reunião na véspera da ação, na qual foram coordenadas as ações entre as Forças Armadas e as forças de segurança federais e estaduais, incluindo o emprego de meios blindados, aéreos e navais na realização do cerco’’, diz a nota. Ainda segundo o CML, ‘‘helicópteros foram empregados para estabelecer pontos estratégicos na periferia da comunidade, incluindo elevações e áreas de vegetação com utilização de técnicas de desembarque em terra’’.

Três projéteis de fuzil foram encontrados em cadáveres de três vítimas. As balas serão confrontadas com as armas dos policiais civis que participaram da operação. O Exército não enviou o armamento usado naquele dia, por isso não há previsão de confronto dos projéteis com as armas dos militares.